Que corpo é este,
torto,
troncho, atrofiado, disforme e deformado? Este que tanto interessa à
arte, este que choca, que dói, que traz desgosto, mal-estar, repulsa
e que tanto se revela, se desvenda e se desnuda na arte contemporânea...
Este corpo é o meu corpo.
Meu corpo real, vital e mortal. Ele mesmo, este que mal respira por causa
do cigarro, este que cai de bêbado por se negar, este que deprime, este
que não se deseja nem deseja ser objeto de desejo, este corpo gordo,
flácido, envelhecido, de cabelos desgrenhados, as pernas tortas que
rangem, as unhas curtas e roídas, os dentes amarelados e mal dispostos
na boca, o barrigão, este corpo é o meu corpo real e a minha
impotência e a minha ignorância. Sim, sei das minha deformidades,
o espelho é "imagem especular", "duplo absoluto"
onde "tipo e ocorrência coincidem", o espelho não mente,
nele confiamos, diria Umberto Eco
4.
No espelho me vejo e me odeio.