O crescente interesse da arte pelo corpo extraordinário, pela deformidade, pelo que aqui afirmo ser o real, em detrimento do "real" imposto nos leva diretamente, de volta, à Adorno e Horkheimer em "La dialectique de la raison", à Marcuse em "La dimension esthétique", à Mikel Dufrenne em "Art et politique", à Roland Barthes em "Mythologies". Nos anos 80 muito trabalhamos estes autores que nos alertavam contra a classe e a sociedade dominantes, que nos falavam do príncipio de realidade estabelecido, da ordem estabelecida (Dufrenne), da ideologia dominante, dos mitos que perpetuam o sistema (Barthes), de espírito reificado, da Razão pura (Adorno e Horkheimer), da razão planificadora, do mecanismo social, da indústria cultural... Hoje sabemos que não há verdadeiramente planificação ou unicidade nas ações das agências de publicidade, fortes formadoras de opinião, nem nas ações das indústrias culturais e, muito menos, nas indústrias em geral; hoje sabemos que, também a classe dominante é dominada pela mídia, não uma mídia direcionada, mas, ao contrário, mídias vorazes e absolutamente sem controle. As únicas regras são vender mais que os concorrentes, obter uma melhor "performance" dos indivíduos, das empresas, das máquinas, e para tal não há ideologia, nem sistema organizado.